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Petra Rocks My World (atualizado)


(confira no fim do post os vídeos e fotos do show!)

Sábado, dia 14 de agosto de 2010. Esse dia vai ficar marcado na minha memória pra sempre! Na verdade não faz mais de meia hora que terminou o show mais marcante da minha vida. Os caras que estiveram na estrada por mais de 35 anos até então, estiveram em Curitiba pela primeira vez. E foi também a primeira vez que tive a oportunidade de vê-los. Esperei por esse momento por longos anos… Pra entender melhor isso, se você não leu o meu post de 10 de junho de 2010, quando fiz 25 anos de existência (esse aqui), preciso contar alguns detalhes.

Eu já enrolo para falar sobre o Petra aqui no blog há muito tempo, meio porque eu esperava ter um motivo justíssimo para escrever. Bom, esse agora é um motivo mais do que justo. Eu não sei ao certo quando conheci a banda americana do John Schlitt, um dos principais nomes por trás desse ministério que começou em 1972. Os caras, na época, faziam algo que ninguém ousava fazer: tocavam rock nas igrejas cristãs. Há discussões sobre o fato de eles serem pioneiros ou não nisso, mas uma coisa é indiscutível, o Petra foi a primeira banda a realmente se tornar popular nesse segmento.

De lá pra cá, diversos nomes passaram pelos palcos de diversas partes do mundo. A formação sempre variou bastante e já teve gente como Greg X. Volz, John Lawry, Louie Weaver, Ronny Cates, Kevin Brandow, Mark Kelly, Greg Bailey e mais alguns. Mas foi com a formação clássica de meados dos anos 1980 (que durou até 1993) que a banda chegou ao seu auge. Encabeçada pelo guitarrista Bob Hartman, um dos fundadores e o único membro que permaneceu desde a formação original, o Petra passou por diversos altos e baixos, motivo que acabou encerrando a carreira dos caras em 2005, com um emblemático DVD de despedida chamado Petra: Farewell.

Mesmo tendo ficado fora dos palcos entre 1994 e 2002, Bob continuou nos bastidores, compondo e gravando em estúdio como nos álbuns Petra Praise II: We Need Jesus (de 1997) e Petra: Revival (de 2001). Mas com a fadiga dos anos (os caras tinham em 2005 mais de 50 anos), John e Bob decidiram deixar as turnês sob o nome da banda e iniciar uma sequência de shows da dupla, tocando em igrejas e festivais menores, com um foco maior em canções congregacionais. Então, depois de 33 anos de carreira, o Petra encerrou os trabalhos do ministério fazendo uma longa turnê mundial.

Nessa turnê, ainda em 2005, a banda passou pelo Brasil, com alguns shows fora do eixo Rio-São Paulo, e um deles estava marcado para Goiânia/GO. Marcado para o Serra Dourada, com expectativa de um grande público, o show prometia bastante. Prometia, pois não aconteceu. Na época eu morava em Goiás e consegui arrebatar meu pai pra uma carona forçada que deixou minha irmã, uns amigos e eu a poucos metros do estádio. Meus ingressos estavam reservados com uma das organizadoras do evento e então quando liguei para ela pra saber como pegá-los, fiquei sabendo que a banda havia ficado presa no aeroporto em Buenos Aires, por um problema no visto dos caras.

Isso porque poucos anos antes, em 2003, em outra vinda dos caras ao Brasil, tive que deixar de ir ao show porque a data coincidiu com meu vestibular. E por mais uma desventura, esse show, marcado para Ipatinga/MG, também não aconteceu por problemas do pessoal da organização com o local do show. Sei que nesse caso os caras da própria banda resolveram fazer uma apresentação informal para os fãs (reza a lenda).

Agora imagine você: uma das principais bandas da história do rock cristão, uma das bandas mais respeitadas entre a industria cristã e até mesmo a não cristã, os caras que ganharam 4 Grammy, diversos Dove (uma premiação exclusiva da música cristã internacional) e foram incluídos no Hall da Fama do Hard Rock Cafe, a banda que vendeu milhões de cópias de discos e que se tornou referência pra milhares de outros músicos ao redor do planeta, a banda que fez uma carreira brilhante e que levou a música, o rock, a terras até então nunca atingidas (o Petra foi a primeira banda cristã a tocar na Índia, por exemplo), a banda que fez tanto sucesso na América Latina que gravou 2 álbuns em espanhol que venderam tanto quanto as versões em inglês (Petra em Alabanza e Jekyll & Hyde en español), a banda que tinha encerrado as atividades em 2005, resolve voltar aos palcos em 2010! E pra completar: marca um show em Curitiba, justo quando eu estava morando na cidade!

Eu cheguei a comentar no twitter que esse seria o show da minha vida! Eu não tinha dúvidas de que seria! Esperei mais de 10 anos pra ver esses caras ao vivo e já tinha até mesmo me conformado com a possibilidade de jamais vê-los, quando a banda se aposentou. Dá pra imaginar a ansiedade? Bom, se você imaginou, duplica isso que imaginou! Triplica! Agora some a isso o medo de mais uma vez o show não rolar! A incerteza se dessa vez ia dar certo! Some também o preço do ingresso (R$75,00 a entrada, ou R$33,00 se eu conseguisse a meia). Não tinha como eu estar mais inseguro/ansioso/nervoso do que isso.

Mas por incrível que pareça, saí de casa meio desanimado. Não sei se por causa da semana inteira de cansaço, de estudos e trabalho, de uma noite bem mal dormida de sexta pra sábado… Eu cheguei ao show sozinho (não conhecia ninguém que fosse lá), e achando que nem mesmo muita gente fosse aparecer. O Petra não é mais a banda popular que foi nos anos 1990. Pouca gente dessa geração conhece e respeita a banda e sua importância. Mas o lugar estava cheio! Eu ainda não havia conseguido um ingresso, mas na fila, um desistente acabou me vendendo o dele por R$30,00 (mais barato até que a meia entrada). E enfim eu estava dentro, com tudo confirmado, com os caras lá, com o som funcionando, e com o Chris (do Filhos do Homem) no palco.

A ansiedade voltou! O papo com a galera que estava por lá meio que descontraiu todo o clima, relembrando momentos bacanas, falando de música, curtindo o som das bandas que abriram (curti o FDH, que nunca tinha escutado direito e o Chris é gente finíssima – a outra banda, não se era Aurea, ou coisa assim, também mandou bem, mas o vocalista era cheio de graça demais). Enfim, depois de muita enrolação, num show marcado pras 19h30 que começou às 20h e que teve 1263 coisas antes dos caras entrarem no palco (e um falatório de pastor disso, organizador daquilo, presidente da associação daquilo outro e candidato – que nunca falha)… Então os caras apareceram…

Com muita ovação, galera gritando muito, John e Bob apareceram e foram seguidos por Greg Bailey e pelo Christian (o baterista que está participando da turnê com a banda e é argentino – e foi zuado no show). E começaram como tinha que ser: com muito peso, com a galera agitando e com a empatia de todos, ao som de All About Who You Know. Foi legal ver o Greg e o John sorrindo bastante como se não esperassem uma recepção tão boa. E deu pra ver que os caras se empolgaram mesmo quando tocaram uma bela sequência que teve Dance, que fez todo muno pular e cantar no refrão pra lá de animado, e a parte praise com Lord, I Lift Your Name On High (que a galera cantou em coro arrancando mais sorrisos do vocalista), I Waited for the Lord, Amazing Grace, The Noise We Make e Ancient of Days (canções justamente dos álbuns que foram gravados quando Bob Hartman deixou os palcos).

Logo no começo, antes de a banda subir aos palcos, na parte das enrolações, fizeram uma disputa entre alguns caras que tentaram cantar canções do Petra… Alguém tentou soltar um This Means War, outro arranhou Jekyll & Hyde (e ainda teve a cara de pau de dizer que era cover do Petra), mas só um cara realmente fez a galera vibrar: um tal de Boby (já postaram o vídeo no YouTube), mandou ver cantando trechos de Creed. O cara foi ovacionado e teve seus 10 (ou 2) minutos de fama. Mas foi mesmo quando John puxou no palco as primeiras frases da música que os fãs presentes realmente deliraram. Com “I believe in God Father” puxando a canção, um coro uníssono começou e durou toda a música. Tava com cara de clímax, mas ele ainda viria por aí…

A galera também vibrou bastante ao som das clássicas Sight Unseen, It Is Finished, I am on the Rock, Think Twice, Midnight Oil, Mine Field e This Means War, cantadas num Rock Medley, à semelhança do que eles fizeram no DVD lançado em 2005. Do último álbum de estúdio da banda rolaram também Perfect World e a música título do álbum Jekyll & Hyde, que já arrancou gritos do pessoal desde os primeiros acordes de Bob nas guitarras. Teve também Right Place e aquela sacada de sempre do John de fazer a galera participar bastante.

Demorou um pouco… Na verdade alguns anos! Esperei um momento quase interminável durante os primeiros 10 segundos em que Bob começou a introdução de Beyond Belief. Considerada pela maioria dos fãs como a melhor música da banda, a canção se tornou um hino do rock cristão e foi, tanto quanto Creed, cantada com ênfase e vontade não só por John, mas por todos os presentes. Foi o clímax! Confesso que segurei o choro, com nó na garganta. Tinha ligado pro meu irmão quando eles tocaram Creed e liguei pra minha irmã ao som de Beyond Belief, enquanto eu esquelava o refrão com o pouco de voz que ainda tinha me sobrado. A importância dessas duas músicas pra mim e pro meus irmãos, não dá pra descrever…

Das mais antigas da banda, da formação que ainda tinha Greg Volz no vocal, eles acabaram cantando somente duas músicas. Uma delas foi Judas’ Kiss. Acho que não era exatamente uma que todo mundo conhecia. Além de mim, vi poucos outros cantando.

Nesse momento Bob assumiu a frente e tivemos um apelo. Não me espantei nem um pouco e até esperava que isso acontecesse. Só comprova que o Petra é mais que uma banda, mas um verdadeiro ministério que ultrapassa o tempo, que atinge há gerações os corações de jovens, adultos e até crianças (tinha algumas por lá). E, como de costume, houve o momento da tradução meio grossa da galera que insiste em não interpretar a fala dos caras. Acho que to ficando meio chato com isso agora que to aprendendo um pouco mais de inglês e consigo perceber quando o cara fala uma coisa e traduzem outra. Um dia eu chego ao nível de poder eu mesmo traduzir um artista internacional por aí (me apóiem, por favor).

Então o show foi interrompido pela produção que resolveu fazer uma homenagem justa à banda. Uma placa foi entregue, um dos organizadores falou bastante sobre a vinda da banda e das dificuldades de trazer os caras pra cá e sobre a esperança de que eles voltem outras vezes à Curitiba (e ficou no ar uma promessa de que ano que vem tem Classic Petra por aqui). Então John se encarregou de agradecer e de deixar uma mensagem aos fãs do Brasil, a quem ele se referiu como segunda família e orou mais uma vez, pelo público, pelos pastores e pelos futuros líderes e ministérios que surgirão, incentivando o surgimento de novos ministérios como o Petra, que foram ousados e marcaram a história.

A última canção então foi introduzida por John, logo após a oração, enquanto ele ainda falava e soltou “He came, He saw…” (e nessa hora eu já comecei a gritar sabendo o que vinha) “… He Conquered”. Essa era a segunda música das mais antigas, também não muito conhecida, mas que foi regravada pela banda no álbum acústico de 2000 (Double Take), junto com Judas’ Kiss. Com o grito final de He Came, He Saw, He Conquered veio o fim do show.

Com gosto e quero mais (e os caras não voltaram mesmo pro palco mesmo depois do pedido de “one more” meio estranho que decidiram improvisar) a primeira vinda do Petra a Curitiba terminou e deixou uma sensação de dever cumprido no ar. Os caras fizeram o que vieram fazer, tocaram, cantaram, animaram, se alegraram enquanto cantavam as músicas que haviam deixado de tocar juntos há 5 anos, e marcaram mais uma vez a história de muitos fãs, como eu, que cresceram ouvindo o som desses dinossauros do rock.

Se antes, a importância da banda na minha vida já era uma coisa difícil de explicar, principalmente para quem não conhece ou não viveu essa época, agora se tornou ainda mais significativa a influência do Petra pra mim, tanto musicalmente quanto em ministério. E, posso dizer, agora com ainda mais ênfase, ainda mais entusiasmo, que Petra Rocks My World!

Nota: dos álbuns do Petra, por mais importantes e significativos que são cada um deles, por cada canção e sua relevância na história da banda, muitos são colocados no rol dos melhores e a discussão entre um e outro entre os fãs nunca chegará a um consenso. Mas pra mim, e isso é absoluta e totalmente pessoal, God Fixation, se não é o melhor deles, é o segundo ou no mínimo terceiro colocado. E nenhuma das canções do álbum foi cantada no show. Nem mesmo If I had to die for someone, que foi single da banda entre 1997 e 1999. Talvez essa seja minha canção favorita, ao lado de Beyond Belief, Creed e St. Augustine’s Pears, creio eu, mesmo que isso seja discutível. Então fica aqui registrada a minha queixa quanto a isso! Não que isso tire um pedaço de tudo o que foi essa noite ou diminua a minha alegria e satisfação com minha ida, talvez única, ao show do Petra!

Nota 2: Entre os meus álbuns e músicas favoritas, dois fizeram parte da fase em que realmente comecei a curtir a banda (antes só escutava, mas depois virei realmente um fã). A época do Praise II e do Revival foram de grande importância na minha vida pessoal, e me marcaram muito. Foi quando comecei a ouvir esses álbuns que comecei a montar e manter no ar o site WebPetra, que mais tarde se tornou o PetraHead, que eram os principais fansites da banda em língua portuguesa. Foi uma época em que fiz muitos amigos, contatos com outros fãs e comecei a conhecer ainda mais o som da banda e a descobrir outros artistas internacionais bacanas que hoje fazem parte das minhas playlists. Fiquei muito feliz de ouvir as músicas desses álbuns, já que não esperava que elas fossem aparecer (eu achava que eles não as tocassem ao vivo). Dessas, Lord I Lift Your Name on High foi a que eu fiquei mais feliz de escutar por ser uma das que tenho tocado nos cultos em inglês da minha igreja.

Nota 3: A setlist do show, na ordem correta, eu vou divulgar aqui assim que achar ela por aí. Eu tentei escrever na ordem, mas tenho quase certeza de que não está certinho, já que minha memória é péssima pra isso.

Vídeos:

All About Who You Know

Ancient of Days

I Waited For the Lord

Beyond Belief (o som não tá legal, mas dá pra ouvir o quanto a galera cantou junto com os caras)

Solo do Bob Hartman

Creed e Judas’ Kiss

e uma matéria legal que a rede RPC (daqui do Paraná) fez sobre o show:

Fotos:

Ops! Ainda não deu pra pegar!

Minha paixão número 1


Um quarto de século se passou desde que vim ao mundo numa manhã de 1985. Acho que esse é o principal motivo de eu estar escrevendo esse texto: um daqueles momentos em que a gente para pra ver a nossa vida e analisar o que se passou, o que aconteceu de relevante. Os caminhos que tomamos, e o que nos fez seguir por eles. Eu não consigo fazer uma análise dessas da minha própria vida sem falar de uma das minhas principais influências: a música.

Minha história musical começou bem cedo. Me lembro de ainda pequeno sempre estar cercado de muita coisa que acostumou meus ouvidos a diferenciar notas, instrumentos, vozes… Devo isso à minha família. Nasci e cresci num lar cristão. Meu pai, pastor da Igreja Presbiteriana, e minha mãe, professora, nos guiaram, a mim e a meus irmãos mais velhos, no mundo da boa música cristã da época. Lá pelos idos anos 1980 (sim, eu vivi metade deles e lembro de algo) lá em casa tinha um velho som Gradiente que sempre estava tocando algum LP (esse era o nome pra mim do que muita gente chamava de “bolachão”, e que os mais novos conhecem apenas como “disco de vinil”).

Capa de um álbum do VPC dos anos 1970
Vencedores por Cristo (VPC)

O que me recordo facilmente de ouvir bastante quando pequeno é Vencedores por Cristo, vulgo VPC, e seus colaboradores: João Alexandre, Guilherme Kerr, Jorge Camargo e etc. E tudo o que era dessa linha. Sérgio Pimenta, Josué Rodrigues e tantos outros. Claro, teve muito Comunidade Evangélica de Goiânia (Koinonia) e Prisma, aquele grupo tradicional da Igreja Adventista que, depois de velho, descobri que traduziam 90% das músicas que cantavam em português na época. Eu, como criança, cresci ouvindo os álbuns para crianças deles. E do Xuxu (Louvores da Garotada, Salt, Print, essas coisas). E do Arlindo Barreto (o primeiro Bozo brasileiro que depois se converteu).

Eu não tinha um gosto próprio. Afinal, eu tinha uns 6, 7 anos de idade. Eu gostava de ouvir o que meus irmãos gostavam de ouvir. E isso foi muito bom, devo dizer. Mais ou menos nessa idade eu tive meu primeiro contato com o rock. Meus pais gostavam bastante de Rebanhão, talvez a primeira banda cristã de rock no Brasil, mas que era bem pop, pra falar a verdade. Muitas das músicas que eu mais gostava de ouvir eram deles.

Igreja Batista do Morumbi, Life, Milad, Logus, Kadoshi… Por volta de 1992 meus irmãos começaram a sair com um pessoal mais velho que já curtia uns sons mais diferentes (e que meu pai não era tão fã) como Katsbarnea e Oficina G3. As duas bandas eram consideradas rock pesado pra gente e não podíamos ouvir. Antes, porém, veio o Catedral. Pouco depois o Raízes. Era o máximo de rock que a gente escutava.

Música internacional também sempre teve vez. Meu pai era fã de um tal de John Starnes, um cantor muito popular nos EUA, que fazia um som meio country. Logo vieram Acappella, Michael W. Smith, Amy Grant, Ron Kenoly e vários outros artistas do que era chamado por lá de Contemporary Christian Music (CCM), que foi logo se tornando gênero favorito dos meus irmãos. E meu, claro!

Não me lembro exatamente quando, mas por volta de 1995 conhecemos o Anointed. Uma fita K-7 gravada com qualidade bem ruim passou a ser a coisa mais tocada em casa. Um walkman da Sony era super disputado nas nossas viagens. Três irmãos pra pouca música. E foi nesse mesmo walkman que, finalmente, conheci algo que mudaria minha experiência com música.

No mesmo ano meu irmão mais velho apareceu com uma fita de rock, internacional, a primeira com que tive contato. Mas rock mesmo. Um tal de Petra! Foi a grande mudança. O nome do álbum era Beyond Belief, algo como “Além da Fé”, mas que na época a gente não fazia a menor ideia do que significava. Não sabíamos inglês, mas o som era muito bom e muito diferente do que nós conhecíamos. Eu ouvia tanto esse álbum que cheguei a decorar a ordem das músicas. Detalhe, não era a ordem certa. Por algum motivo na hora da gravação do LP alguém tinha repetido algumas músicas e deixado a coisa meio fora de ordem. Pra gente, no entanto, tava tudo certo.

Integrantes da formação clássica do Petra
John Lawry, Bob Hartman, Ronny Cates, Louie Weaver e John Schlitt: a formação clássica do Petra

Petra passou a ser minha banda preferida. Eu cantava com os fones no ouvido, sem saber uma frase sequer do que estava cantando, mas achava que tava tudo certo com o meu inglês ‘embromation’.

Em 1996 ganhamos um computador de um tio. Tinha até leitor de CD-ROM, kit multimídia e tudo. Era coisa chique. Era a única coisa em casa capaz de reproduzir um CD de música. Teve votação em casa pra saber qual seria o primeiro CD comprado com suados 12 reais. Adivinha o vencedor? Petra, claro. E veio então o Petra em Alabanza, com as músicas em espanhol do álbum Petra Praise: The Rock Cries Out. E agora nós sabíamos o que estávamos cantando. Naquele tempo, ainda sem Internet, era difícil ter grande acesso as coisas lá de fora e só o que a gravadora Bom Pastor trazia dava pra gente ter em casa. Então nosso acervo de música nacional cresceu bastante em CD.

Pouco depois veio Katsbarnea e, enfim, Oficina G3. Com uma fase mais pop (PG no vocal) ficou mais fácil meu pai aceitar o som deles. Mas meus preferidos eram os caras do Resgate. Aquele som meio anos 1970, a voz rouca do Zé Bruno e as letras dos caras. Aí começou de vez meu gosto pelo rock.

Oficina G3
Os caras do Oficina G3 há muito, muito tempo atrás…

No finzinho do século, do milênio, começamos a ouvir bem mais às rádios cristãs, principalmente uma da Renascer que era transmitida em BH e outra da Quadrangular, também da capital mineira. Aí nosso repertório aumentou bastante. Mas só mesmo com a chegada da Internet discada lá em casa é que de fato ampliei meus horizontes de forma colossal. Primeiro descobri as salas de bate-papo. Depois o ICQ. Por fim, o MP3! Fui pioneiro lá em casa no assunto Internet, apesar de que meu irmão era quem fazia Sistemas de Informação. O negócio dele era mais softwares, programar. Eu fui cada vez mais me tornando piolho da coisa. Não conhecia o termo na época, mas pode-se dizer que virei Internet Heavy User. Claro que a Internet da época não oferecia a mesma quantidade de informações em português que temos hoje, mas já era alguma coisa.

Em 2000 comecei a estudar no CEFET e a andar com uns caras mais do meu gênero: os adolescentes que haviam deixado de lado os videogames pra se divertir no PC. Eu, com meus 15 anos, comecei a aprender a desmontar computadores, brincar com as peças, e a mexer nas configurações dele. O povo lá de casa ficava louco toda vez que eu mudava alguma coisa. E direto algo não funciona mais como antes. Confesso que a culpa era minha. Também comecei a aprender mais sobre o funcionamento da Internet, sobre servidores, hospedagem e como poderia fazer meu próprio site. Como já mexia com Corel DRAW há um tempo, depois com o Corel PHOTO-PAINT, foi um pulo pra eu começar a desenvolver meus próprios sites. Arrumei umas apostilas de HTML, aprendi a usar o Microsoft FrontPage e voilá.

Os primeiros sites? Obviamente que eram sobre a única coisa que eu sabia falar: música! Primeiro veio o Resgatados, um fan site sobre o Resgate. E em 2001 estava no ar o WebPetra, que em 2003 se tornaria o PetraHead, o maior site sobre Petra em língua portuguesa. Não me lembro de todos os detalhes, mas cheguei a ter mais de 10 mil visitas, o que era muito pra um site independente, hospedado no HPG (Home Page Grátis) e depois no Kit.Net (da Globo). O site tinha letras e detalhes de praticamente todos os álbuns lançados pelo Petra, muitas fotos (encontradas em sites de outros fãs espalhados pelo mundo) e até cifras das músicas. E eu fazia questão de ler muito pra sempre ter informações fresquinhas no site.

Fórum Gospel
Logo oficial do Fórum Gospel: desde que me lembro é essa…

Por causa do site, comecei a procurar coisas em sites em inglês, o que acabou por me fazer ter um contato grande com a língua (e com tradutores online como Babel Fish). Aprendi muita coisa nessa época por causa da Internet (além dos jogos e das músicas). Comecei também a frequentar fóruns de música, como o Fórum Gospel, e a vários sites pouco conhecidos como o SuperGospel e o DotGospel. Fiz várias amizades e ganhei colaboradores. E comecei a ter contato com outros gostos musicais. Por causa do FG e, principalmente, do Dot, conheci Jars of Clay, Third Day, Audio Adrenaline, dcTalk, newsboys, Sonicflood, Guardian, e vários outros artistas dos anos 1990 que tinham um bom tempo de estrada, mas que não chegavam por aqui.

Já há alguns anos, ainda na época do Ensino Médio no CEFET, eu tinha começado a ter contato com algumas bandas seculares (não cristãs) por alguns amigos da escola: Metallica, Red Hot Chili Peppers, Guns n’ Roses, e outras não faziam parte do que eu estava acostumado a ouvir. Anos depois vieram Linkin Park, Limp Bizkit, P.O.D., e bandas que eu mal sabia quem eram, pra falar a verdade, mas comecei a ouvir e a gostar bastante.

Com toda essa mudança musical, passei a curtir o rock um pouco mais pesado, indo primeiro para o new metal, depois para o metal mesmo. Nunca tão pesado. Não sou da linha death, black, speed e coisas do gênero. Sempre fiquei na linha tênue entre heavy metal e metal melódico. Mas também conheci muita coisa de hard rock, progressive, e industrial.

Rob Beckley, vocalista do Pillar
Rob

Mas como eu gostava muito de letra, tanto quanto ritmo e melodia, resolvi procurar por conta própria bandas cristãs que fizessem um som diferente do CCM. Que fizessem um rock como esse que eu estava começando a gostar. E lá estava a Internet novamente pra dar uma mão. Procurando bastante em sites internacionais e cheguei primeiro ao 12 Stones. Em seguida ao Pillar e, pouco depois, ao Skillet. As três bandas estavam começando a fazer uma caminhada lá pelos EUA com o tipo de som que eu queria encontrar. Juntas, em 2004, as bandas estariam tocando numa turnê que ainda levava Big Dismal e Grits (mais alumas bandas pra minha playlist).

John Cooper, vocalista do Skillet
John

As vozes de Rob Beckley (do Pillar) e John Cooper (do Skillet) passaram a ser referências para mim, tanto quanto a de John Schlitt (do Petra) e Mac Powell (do Third Day). Eu reconhecia de longe, mesmo quando não conhecia a música. Passei a ouvir muito esse tipo de rock (entre o new metal e o rapcore) e conheci várias outras bandas do gênero, mas sempre tinha como favoritas Pillar e Skillet.

Então, em 2004, veio o Orkut. Pouco depois, a onda blog chegou ao Brasil. E uma enxurrada musical veio junto. Bandas e sons dos quais nunca tinha ouvido falar passaram a fazer parte das minhas leituras e, logo, das minhas playlists. Conheci vertentes diferentes do rock, bandas de outros países e fui abrindo um leque que jamais conheceria se não fosse a Internet (daí a minha briga ferrenha contra esse preciosismo da indústria fonográfica de querer limitar os downloads pela web, sem os quais metade dos artistas que eles vendem não seriam conhecidos, mas isso é assunto pra outro post).

Kutless, Switchfoot, Jeremy Camp, MercyMe, tobyMac (ex-dcTalk) e tantos outros começaram a ter lugar cativo no meu Winamp. Cada vez mais meu repertório estava aumentando e mais artistas e bandas internacionais faziam parte dele. Claro que também meus pais e meus irmãos conheciam coisas diferentes. Estava sempre baixando coisas que eles gostavam de ouvir, principalmente em português para minha mãe. Muitos artistas nacionais também compunham nosso acervo de MP3. Mas nunca deixamos de comprar CDs em casa. Isso era uma regra. O que dava pra comprar, o que era de fácil acesso, a gente comprava. Ainda hoje, na casa dos meus pais, muitos CDs meus e dos meus pais e irmãos estão lá empilhadinhos.

Mas por mais que eu escutasse muita coisa nacional, principalmente Resgate e Oficina G3 (duas bandas que faço questão de comprar CDs até hoje e pretendo ter toda a discografia de ambas em CDs originais em casa), minha parcela de música internacional ia só crescendo.

Em 2005, quando o Petra anunciou que iria parar, minha decepção foi muito grande. O PetraHead foi o primeiro site a dar a notícia em português, poucos minutos depois dela ser divulgada num site americano (Petra Rocks My World, que está no ar até hoje). Na mesma época um problema no servidor tirou meu site do ar e um outro no meu PC me fez perder todos os meus dados relativos ao site (e todos os meus 4 Gigabytes de música salvos). Foi uma fase bem triste, que me deixou bastante desanimado. Por sorte, eu tinha algumas coisas gravadas em CDs.

Também nesse ano tive o prazer de conhecer o ZPoC: um programa de compartilhamento de dados (principalmente MP3) totalmente cristão, com salas de bate-papo e muita, muita música. Nele comecei a refazer meu acervo e logo já havia superado os 4GB anteriores que viraram 8GB, 16GB e hoje já somam mais de 60GB de música. Bem pouco, na verdade, se comparado ao share (como nós chamávamos o acervo de cada um no ZPoC) de outros usuários que chegavam a 2 Terabytes. Graças ao Z, completei minha discografia do Petra, o que jamais conseguiria por aqui, pois os primeiros álbuns da banda nunca chegaram ao Brasil e não se encontram facilmente na Internet. Também completei a discografia de várias outras bandas que gostava e conheci diversas outras.

Hoje não sei dizer exatamente quantos CDs tenho, quantas bandas escuto, quantas músicas tocam no meu PC o dia inteiro. Vivo de música. Ouço sempre que dá. Aprendi a tocar, a cantar, a traduzir as que gostava mais… Mais velho, já no fim da adolescência, comecei a tocar na igreja, a gostar de gêneros mais congregacionais (música que a gente canta na igreja, com a igreja). Passei a ouvir muito modern worship, essa linha hoje encabeçada pela Hillsong Church, mas que passa por Leeland, Delirious?, Chris Tomlin, Matt Redman, David Crowder*Band e tantos outros.

Hillsong United
Hillsong United, principal nome do modern worship entre os jovens

Outro dia me perguntaram qual era minha banda preferida. Não soube responder. Nem minha música, ou meu CD. Não sei se tenho “a” preferida. Gosto de ouvir algo num determinado momento e outra coisa completamente diferente em outro momento. Eu diria facilmente quer era Petra a banda e Beyond Belief a música, há uns 6, 7 anos atrás. Mas eu conhecia tão pouca coisa que essa afirmação era a única possível pra mim. Hoje eu escuto tanta coisa que é impossível separar algo que eu goste mais. Claro que tem umas 20 músicas que eu escute mais que as outras. Mas daqui um mês essas 20 serão outras. As cinco bandas que mais escuto hoje, não são as mesmas cinco do ano passado.

Não tem como eu me separar da música. Não tem como separar a música da minha história, da minha trajetória. A influência do que eu escuto, do que eu gasto meu tempo organizando (sou fissurado em organizar tudo o que baixo, desde as pastas até as TAGs, com as capas de todos os álbuns e tudo o mais), me fez ser metódico com as coisas. Minha personalidade foi moldada ouvindo música, em frente ao PC, aprendendo, lendo e ensinando o que sei. É por causa da música, das letras, dos ritmos, das melodias, que sou hoje o tipo de cara que sou.

Também posso dizer que influenciei bastante gente nessa caminhada musical. Vários amigos me contam que começaram a ouvir tal artista, tal banda, tal música depois que eu apresentei a eles. Alguns viciaram no som, outros simplesmente passaram a gostar.

E devo à música meu principal ganha-pão hoje, e o motivo de eu estar finalmente fazendo uma faculdade com a qual me identifico e numa área que quero trabalhar. Foi pela música, pelo contato com a web, pelos sites, que tomei gosto pelo design. Foi pelas capas de CDs, pelas tipografias nos nomes das bandas, pelas artes e pelas fotos que me vi envolto por esse mundo das artes gráficas, do digital, do Photoshop, dos vetores. Pela música tomei gosto pela coisa e me tornei o estudante de design gráfico.

Sei que muitas músicas ainda vão me assombrar na hora de ir dormir, como sempre acontece comigo. Sou de deitar e ficar com uma música na cabeça antes de dormir. E sempre acordo cantarolando ela em pensamento. Às vezes isso é tão forte que tenho que ligar o PC só pra ouvir a música e conseguir dormir.

Minha história musical está completando somente 25 anos. Tenho muito tempo de música pela frente! Sei que muita coisa ainda vai me marcar. Muitas músicas significam momentos especiais, com pessoas especiais. Sempre me lembro de alguém ou de algum momento quando escuto determinadas músicas. Algumas são bem saudosistas, outras são momentos que eu poderia esquecer, mas que a música não deixa que isso aconteça. Acho que posso dizer sem medo: música é minha paixão número um!